quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

direções







Fazia dois anos que não tinha um carro. Sempre achei um absurdo as pessoas sustentarem automóveis e os enxergarem como algo NECESSÁRIO na vida delas (essa perspectiva de NECESSIDADE é algo bem característico do Brasil, mas muito forte no Sul do Brasil, e eu ainda lido um pouco mal com isso), mas ganhar um carrinho velho com IPVA e seguro pagos até que não me incomodou, por causa de uma coisa que há tempos não experimentava: a liberdade de dirigir na estrada.
Não sei o que acontece comigo quando dirijo na estrada. Talvez uma sensação de que não pertenço a lugar nenhum, e que pertenço a todos; de que estou de passagem, mas que estou absolutamente presente. Talvez porque eu me enquadre, na classificação do Sérgio Buarque de Holanda, na categoria dos aventureiros (em contraposição a dos trabalhadores – a fábula da cigarra e da formiga histórico-sócio-antropologicamente revisitada?). Talvez porque, segundo nosso amigo Nietsche (o alemão, não o gato) somos todos andarilhos*.
Mas acho que é mais que isso. Caso contrário, teria a mesma sensação de liberdade no ônibus e na carona, e não apenas enquanto sou a motorista. A direção (a redonda) e a direção (a linear) nas mãos. Deve ser essa a explicação. Além do nomadismo, da cigarrice, do não-pertencimento, a minha bugrice-charrua, que não me permite ficar sendo guaranísticamente catequisada nas missões, pesa muito.

Não por estar dentre os 100 Programas para se fazer no Brasil antes de morrer, mas por algo sentimental, por algo da infância, que não sei bem explicar, escolhi a Rota Romântica para estrear o novo-carro-velho. As fotos são de 01.11.08, dia da reestréia na estrada. Os vídeos feitos ao longo de dois anos, 2007 e 2008.

*O andarilho. Quem alcançou em alguma medida a liberdade da razão não pode se sentir mais que uma andarilho sobre a terra – não um viajante que se dirige a uma meta final: pois esta não existe. Nele deve existir algo de errante, que tenha alegria na mudança e na passagem... Quando mais tarde, no equilíbrio de sua alma matutina, quieto passeia entre as árvores, das copas e das folhagens lhe cairão somente coisas boas e claras, presente daqueles espíritos livres que estão em casa, na montanha, na floresta, na solidão, e que, como ele, em sua maneira ora feliz, ora meditativa, são andarilhos e filósofos. ELES BUSCAM A FILOSOFIA DA MANHÃ.

Um comentário:

A Autora disse...

Leila, siiiiiiim! A Rota Romântica é linda!

O Rafa e eu já fizemos e já passamos justamente pelo Açougue Progresso (era a festa de Picada Café).

Nós também adoramos a estrada (e eu adoro que tenha motorista, eheheheh). Sempre que tiver alguma coisa assim, nos chame!

Beijo